V.N. de Famalicão
Depois da Ricon a Nocir e …. de novo o desemprego para 140 trabalhadores
Quando a Ricon faliu, o grupo Sonix assumiu 160 trabalhadores do grupo. Esta sexta-feira haverá despedimento coletivo porque não houve acordo para a compra das instalações industriais. Esta tarde, a segurança à porta da fábrica já foi reforçada
Para as ex-trabalhadoras da Ricon Industrial, agora na Nocir, o cenário é bem conhecido. Há um ano, quando o desemprego chegou, o primeiro sinal de que as coisas estavam a correr mal foi a presença reforçada dos seguranças à porta da fábrica. “Passou um ano e tudo se repete. Tivemos outra vez mais seguranças à porta da fábrica e estamos à espera de receber o despedimento coletivo amanhã”, diz uma trabalhadora que pediu o anonimato ao Expresso, mas esta sexta-feira já deverá ficar em casa à espera da carta da empresa. Foi isso mesmo que soube ao final da tarde de hoje, depois de uma reunião com a administração.
O nome da empresa mudou, de Ricon para Nocir, ou simplesmente “virou do avesso”, como dizem os trabalhadores, maioritariamente costureiras que entretanto se habituaram a dizer o nome do local onde trabalham ao contrário. E os donos também mudaram. Com a falência da Ricon, um grupo de 8 empresas e 600 trabalhadores que tinha na Gant o seu principal cliente e deixou um passivo de €30 milhões, o grupo Sonix, liderado por Conceição Dias, assumiu o interesse na Ricon Industrial, ficou com 160 trabalhadores da empresa e lançou um novo projeto assente na produção para marcas como a H&M e a Max Mara.
Ficou a faltar o acordo relativo à compra de instalações. A Sonix, que estava interessada no espaço, e tinha um contrato de arrendamento em vigor até este mês, na ordem dos €17 mil euros, terá proposto pagar cerca de 1,6 milhões de euros, um valor considerado pelo administrador de insolvência “muito inferior ao mínimo de venda” do ativo, fixado em €3,5 milhões.
Consultada a comissão de credores, composta pelo Banco Santander, TMG – Têxtil Manuel Gonçalves e um representante dos ex-trabalhadores, houve um voto a favor deste negócio, outro contra e uma abstenção. Assim, em meados de fevereiro, o tribunal deu 60 dias para serem apresentadas novas propostas ou para que a diligência de liquidação tenha novos desenvolvimentos.
“É DEMASIADO VIOLENTO”
Agora, o grupo Sonix decidiu por fim ao projeto e já comunicou às chefias e aos trabalhadores essa decisão, disse fonte dos trabalhadores ao Expresso.
“Vai toda a gente embora e amanhã começamos a receber as cartas de despedimento”, diz uma funcionária que a 19 de março do ano passado viveu exatamente a mesma situação. Tem 50 anos e lamenta: “Passar por tudo isto duas vezes no espaço de um ano é demasiado violento”.
A razão principal da empresa para tomar esta decisão terá sido não conseguir comprar o edifício, explicaram aos trabalhadores. As encomendas estavam a aumentar, a atividade estava a diversificar-se e além da confeção de fatos, uma competência herdada da Ricon, hoje na Nocir “fazia-se tudo”. No entanto, admite quem falou com o Expresso, sempre sob condição de anonimato, “é verdade que a atividade acabou por ir sendo condicionada de alguma forma pelo facto de tudo estar a acontecer em instalações que não eram próprias. Isso terá até travado alguns investimentos necessários à evolução do projeto” e o número de trabalhadores iniciais diminuiu um pouco, para uns 140, devido quase sempre a saídas voluntárias.
CONCORRENTE VALERIUS PRESENTE NA REUNIÃO
Quando a Sonix garantiu o arrendamento destas instalações, o grupo Valerius, liderado por José Vilas Boas também foi candidato ao negócio. Perdeu, mas acabou por comprar a Delcon (outra empresa do universo Ricon) e comprou as instalações de uma têxtil falida na vizinhança da Ricon Industrial, onde funciona hoje a Sartius e empregou outro grupo de ex-trabalhadores da Ricon.
Aliás, José Vilas Boas, presidente de empresas que compõem o universo da Valerius, esteve presente na reunião de hoje à tarde entre a administração do grupo Sonix e os trabalhadores da Nocir, dando a conhecer o que costureiras ex-Ricon e futuras ex-Nocir interpretaram como “alguma disponibilidade” para integrar mais trabalhadores no seu grupo.
O expresso contactou o grupo Valerius, mas teve apenas a indicação de que esta presença foi “antes de mais solidária”. Quanto ao interesse no imóvel, este grupo que “nunca deixa de analisar uma boa oportunidade de negócio”, diz apenas não ter nada a acrescentar nesta fase, antes de recordar que já optou por comprar instalações próprias na vizinhança.
Com a indústria têxtil a crescer e a precisar de mão de obra, a maioria dos trabalhadores que ficaram no desemprego na sequência da falência da Ricon, há um ano, garantiram novos postos de trabalho pouco tempo depois, na Nocir, no grupo Valerius, na TMG e noutras têxteis da região. A TMG, aliás, é também apontada como potencial interessada nas instalações que agora deverão ficar de novo vazias e aguardam comprador.
Há um ano, quando fechou o acordo para arrendar as instalações da Ricon Industrial e empregar 160 ex-trabalhadores da empresa, Samuel Costa, administrador do grupo têxtil fundado pela mãe, Conceição Dias, garantia que a equipa estava “muito motivada e com uma enorme vontade de recomeçar”. Hoje, devido às reuniões em curso, o Expresso não conseguiu um comentário da administração da empresa sobre o quadro atual.
Mas na reunião que marcou mais um anúncio de despedida do trabalho, “apesar de tudo, o ambiente foi calmo”, dizem as costureiras.
O Expresso tentou, ainda, falar com o administrador de insolvência, Pedro Pidwell, mas não teve resposta.
Fonte Jornal Expresso
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