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Guarda-rios: a proteção silenciosa que devolve a vida ao Rio Leça

Jornal do Ave

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Daniel Vítor, um tirsense entusiasta da natureza e da fauna local, viu a sua vida mudar há dois anos, quando aceitou um desafio inesperado: tornar-se guarda-rios. A profissão, que esteve extinta desde 1995, renasceu graças a um esforço conjunto dos municípios de Matosinhos, Maia, Valongo e Santo Tirso, que criaram a Associação de Municípios do Corredor do Rio Leça (AMCRL), em maio de 2021. Este projeto visa revitalizar e proteger aquele recurso hídrico, que durante anos foi considerado um dos mais poluídos da Europa.

Todos os dias da semana, independentemente das condições meteorológicas, quatro guarda-rios percorrem os 44,8 quilómetros do curso do rio Leça, que nasce em Santo Tirso e desagua no Porto de Leixões, em Matosinhos. O trabalho inclui a vigilância de pontos críticos de poluição e a medição da qualidade da água com sondas multiparamétricas. “A experiência tem sido gratificante”, conta Daniel Vítor, que no início estranhou, uma vez que vinha do ramo das obras. “Mas, como já gostava da natureza e do contacto com os animais, habituei-me facilmente e agora posso dizer que adoro fazer este trabalho”, confessou ao JA, durante uma ação de vigilância do Leça, junto à Ponte das Cabras, em Refojos, Santo Tirso.

A vigilância e monitorização do rio são realizadas através das 56 sondas de qualidade da água situadas em 12 pontos do rio e sondas de nível de água em quatro locais. A intervenção ao longo do corredor do Leça já abrangeu o corte seletivo de mais de 602 mil metros quadrados de margens e a remoção de cerca de 295 mil metros quadrados de plantas invasoras. Foram retiradas 250 toneladas de madeira e resíduos do leito do rio e criadas 444 pilhas de compostagem. A intervenção em engenharia natural cobre, aproximadamente, nove quilómetros.

Para Ana Maria Ferreira, vereadora do Ambiente da Câmara Municipal de Santo Tirso, os guarda-rios são os “guardiões” do Leça, os “olhos atentos que, no dia a dia, vão guardando o rio”. Como está numa zona predominantemente rural e sem significativa atividade industrial, e mais próxima da nascente, Santo Tirso tem registado poucas infrações. “Temos uma ETAR em Água Longa que cumpre os parâmetros e praticamente não temos registo de ocorrências”, detalhou.

Para André Carvalho, outro dos guarda-rios da AMCRL, a profissão também foi uma descoberta: “Trabalhava numa quinta, na Maia, quando surgiu a oportunidade de ser guarda-rios. Nem sabia o que era, mas estou sempre a aprender e gosto imenso. Andar na natureza é a melhor coisa que podemos fazer”, frisou.

O trabalho dos guarda-rios tem um impacto direto, não só na melhoria da qualidade da água, mas também na biodiversidade e na educação ambiental. Além do trabalho de vigilância, participam em ações de sensibilização com escolas, mostrando às crianças a importância do seu trabalho e estimulando o contacto com a natureza.

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“Já vimos guarda-rios, lontras, garças e cobras. Com as melhorias a longo prazo, o rio vai atrair ainda mais animais”, atestou Daniel Vítor, sem deixar de apontar “a boa gestão interna, tanto dos municípios como da própria associação, que permite os bons resultados no terreno”.

Este projeto pioneiro tem despertado o interesse de outros municípios em replicar o modelo da Associação de Municípios do Corredor do Leça. “É, claramente, um exemplo para o país e está a dar frutos”, assegura Ana Maria Ferreira, mostrando a importância de um trabalho conjunto e sustentável para devolver o rio à comunidade e transformá-lo num motivo de orgulho e lazer para a população.

Associação de Municípios do Corredor do Rio Leça


Fundada em maio de 2021, pelas câmaras municipais de Santo Tirso, Maia, Valongo e Matosinhos, garantiu o primeiro projeto de reabilitação poucos meses depois, num valor de quatro milhões de euros, com uma candidatura ao Programa Operacional Competitividade e Internacionalização (COMPETE 2020). Tem presidência rotativa e, atualmente, pertence ao Município de Valongo, presidido por José Manuel Ribeiro.

Rio Leça


Nasce no município de Santo Tirso, tem 44,8 quilómetros no seu curso de água principal e passa por Refojos, Lamelas, Reguenga, Agrela, Água Longa, Alfena, Ermesinde e Maia, até desaguar no Porto de Leixões, em Matosinhos. A sua bacia hidrográfica, que corresponde à área que é drenada pelo rio Leça e pelos seus afluentes, compreende uma superfície de 190 quilómetros quadrados e é delimitada a norte pela bacia do rio Ave e a sul pela bacia do rio Douro.

Reabilitação do Rio Leça

56 sondas de qualidade da água situadas em 12 locais e sondas de nível de água em 4 locais
602.529 metros quadrados de área de corte seletivo nas margens
295.267 metros quadrados de área cortada de plantas exóticas invasoras
250 toneladas de madeira e resíduos retiradas do leito
444 unidades de pilhas de compostagem
9 quilómetros de intervenção em engenharia natural

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