Crónicas & Opinião
Memórias e Histórias do Vale do Ave | Os trabalhadores unidos jamais serão vencidos!
“Nas últimas semanas da Monarquia o ambiente era cada vez mais tenso na região do Vale do Ave, várias greves rebentaram e levaram à paralisação de inúmeras empresas, nomeadamente no lugar de Caniços, Vila das Aves, Riba de Ave, Bairro, Delães, paravam as suas fábricas e a greve parecia que se ia prolongar, com a nota de destaque que pelo que demonstra a documentação existente era evidente o efeito dominó que ia acontecendo com cada vez mais fábricas a paralisar.”

Atendendo à narrativa que se vai desenrolar em mais uma crónica, penso que não será melhor título para esta crónica do que este. Os trabalhadores de Santo Tirso e de Famalicão iriam dar um exemplo de luta perante uma suposta apatia em regiões vizinhas.
Um regime político subsiste até ao momento em que consegue criar e sobretudo manter empatia com os populares, as grandes massas da população que são capazes de agigantar os vários movimentos que podiam surgir. E eis que, nos últimos anos da Monarquia, as relações com os operários estavam cada vez mais degradadas. Tardava em acontecer mudanças fundamentais para a vida do comum operário que por vezes nem esperança tinha no futuro.
O setor secundário era algo que estava a ganhar ritmo no país para nunca mais parar, estava a carburar numa velocidade vertiginosa e as fábricas iam surgindo um pouco por todo o país, com ênfase no norte do país, com clara preferência para a zona do Vale do Ave que ia conseguir adquirir um estatuto que não conseguiu voltar a largar até à atualidade.
A região entre Santo Tirso e Famalicão, demonstravam nas vésperas do 5 de Outubro de 1910, uma intensa atividade económica, os capitalistas sobretudo aqueles que passeavam no Porto pelos jardins do Campo Alegre e da Boavista, com a sua residência na Foz, procuravam novas oportunidades de negócio e nada melhor que uma região com habitantes em grande número, o que fazia com que fosse bem servida de mão de obra, aliado ao putativo fator que tenta a historiografia transparecer que era dócil (o que não vai corresponder de todo à verdade, como poderão ver nesta crónica), tudo isto conjugado com uma grande capacidade de capital inicial para alavancar o negócio e permitir um crescimento meteórico, não ignorando por fim o vasto império colonial que seria de escape para todo o tipo de mercadorias, até para aquela que era considerada a mais fatela.
Num determinado momento numa das muitas leituras de arquivos de história da indústria, um cliente da desaparecida fábrica de Mindelo (Vila do Conde) sediado na Guiné: “Afirmava, nós aqui não queremos o refugo, queremos material de qualidade e de moda, como vocês vendem para outros países”.
Nas últimas semanas da Monarquia o ambiente era cada vez mais tenso na região do Vale do Ave, várias greves rebentaram e levaram à paralisação de inúmeras empresas, nomeadamente no lugar de Caniços, Vila das Aves, Riba de Ave, Bairro, Delães, paravam as suas fábricas e a greve parecia que se ia prolongar, com a nota de destaque que pelo que demonstra a documentação existente era evidente o efeito dominó que ia acontecendo com cada vez mais fábricas a paralisar.
Os operários pediam melhores condições de vida, eram hostis para o patronato, não se negavam a atacar as autoridades, mas, sobretudo os chamados “fura-greves” que eram esperados pelos piquetes de greves improvisados e repelidos à base da força física quando o diálogo não tinha o efeito pretendido.
Os conflitos eram inúmeros, não pareciam ter um fim rápido e prolongavam-se por semanas na região, com a atenção apertada do Ministério do Reino (atual Ministério da Administração Interna), quer de Francisco Felisberto Dias Costa e, posteriormente, de António Teixeira de Jesus que pediam relatórios com bastante frequência aos atores políticos locais e distritais.
Os operários manifestavam a sua união, fábricas paralisadas e eis que na ausência de um corpo policial devidamente organizado e preparado para a manutenção da ordem pública e cumprimento das restantes funções policiais, restava o envio de militares de vários quartéis.
Num primeiro momento eram chamados elementos do Porto e num nível superior eis que já chegavam a este espaço militar vários militares alocados em Vila Real que seguramente para si a manutenção da ordem pública devia ser concretizada com base em práticas primárias, elementares que muitas vezes fazia com que a violência aumentasse e agudizasse os problemas.
O território das greves não parava de crescer e chegava em pouco tempo a freguesias como Pevidém, demonstrando que este surto grevista estava minimamente estruturado, planeado, com capacidade de mobilizar mais elementos e de uma área geográfica cada vez maior.
Pouco tempo depois seria o 5 de Outubro e a situação acalmaria com naturalidade, até porque os republicanos nos meses e anos anteriores foram os grandes dinamizadores das lutas dos operários e mesmo que na primeira república deva ser reconhecida a aprovação de inúmera legislação de proteção dos operários, entretanto esqueceram-se de alguma dessa retórica.
Em suma, podemos concluir que de “mansos”, como alguns tentam fazer passar, nada tinham, organizavam-se em vários “comités”, preparavam greves, deixavam-se influenciar pelas ideias revolucionárias do socialismo que procurava construir uma sociedade mais justa.
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