Santo Tirso
A linha de Guimarães “nasceu” na Trofa há 140 anos
A 31 de dezembro celebra-se o 140º aniversário da inauguração do 1º Troço da “Linha de Guimarães”, entre a Trofa e Vizela, acontecimento esse que deu origem e “serviu de mote” a uma Exposição inaugurada no dia 28 de outubro no Museu Ferroviário de Lousado, intitulada “ A Linha de Guimarães: Da Trofa a Fafe.” Este evento foi incluído na “Comemoração dos 167 anos da Primeira Viagem do Combóio de Portugal” (1856-2023) que foi organizada pelas “Infraestruturas de Portugal”, e está patente ao público até 31.12.2023.
Dada a relevância desta comemoração, é mais do que dever – é obrigação – trazer para primeiro plano o historial da dimensão que esta Linha teve, juntamente com a Linha do Minho, para o desenvolvimento de toda a região do Vale do Ave (que incluí os concelhos de Guimarães, V.N.Famalicão, Maia, Trofa e Santo Tirso). A Trofa esteve sempre no epicentro da “origem” (da construção) desta linha e de outras que daqui” nasceram” (tiveram origem) e por outras “sequências” foi também local de “cruzamento” de outras linhas ferroviárias.
Trofa: Nascimento da linha de Guimarães
S. Martinho de Bougado era, nos finais do século XIX , uma freguesia pertencente às chamadas “Terras da Maia”, cujos habitantes (cerca de 1900 à época) se dedicavam à agricultura. No entanto, foi nesta pacata “aldeia” que os responsáveis máximos e técnicos de ferrovia de Portugal decidiram catapultar para todo o país e estrangeiro o nome da Trofa, através da construção de uma linha ferroviária que ligasse esta localidade à cidade-berço, chamando-lhe “Linha de Guimarães.” Tudo tem um início e um objectivo.
Síntese da História do Transporte Ferroviário e dos Caminhos de Ferro Portugueses
A história dos Caminhos-de-Ferro em Portugal reveste-se de elevada importância para o conhecimento da evolução histórica deste país, sobretudo a partir de meados do século XIX. O desenvolvimento operado em Portugal nos séculos XIX e XX fica a dever-se, no âmbito das vias de comunicação, maioritariamente ao meio ferroviário.
As primeiras tentativas para a implantação deste meio de transporte começaram na década de 1840, embora as obras da primeira ligação ferroviária só se tenham verificado no ano de 1853. Para a história fica a entrada ao serviço do primeiro troço entre Lisboa e o Carregado, no ano de 1856, tendo a linha sido concluída com a chegada à fronteira espanhola, em 1863.
A Linha do Minho seria inaugurada no ano de 1882.
Entretanto, em 1887 foi inaugurada a Linha do Douro. Em 1890 o ramal de Viseu, seguindo-se-lhe em 1891 a Linha do Oeste e em 1893 a Linha da Beira Baixa. As cidades a sul, como Setúbal , Évora e Beja foram contempladas com a abertura das respectivas linhas, nos anos de 1861, 1863 e 1864. O caminho de Ferro chegou ao Algarve (a Faro e Vila Real de Stº. António), respectivamente, em 1889 e 1906. Nos inícios do século XX, continuaram a construir-se mais linhas. Assim a Linha de Vendas Novas foi inaugurada em 1904. Em 1906 Vila Real e Bragança (em Trás-os-Montes) ficaram ligadas à rede ferroviária através das linhas do Corgo e Tua.
Linha de Guimarães (cronologia)
A linha de Guimarães, originalmente chamada de Caminho de Ferro de Guimarães é uma linha férrea portuguesa de serviço maioritariamente urbano, que se compreendeu, na sua extensão máxima, entre a Estação Ferroviária de Porto-Trindade e Fafe, passando por Trofa-Lousado, (onde interceta a Linha do Minho) e Guimarães.
Actualmente. apenas se considera o troço entre Lousado e Guimarães como parte desta linha. Esta linha (de Guimarães) era originalmente uma linha de bitola métrica (estreita). O primeiro troço, entre Trofa e Vizela, entrou ao serviço em 31 de dezembro de 1883, tendo a linha chegado a Guimarães em 14 de abril de 1884 e a Fafe em 21 de julho de 1907.
Na década de 1930 a linha foi prolongada para sudoeste: o troço entre Trofa e Senhora da Hora (na linha Porto-Póvoa de Varzim) foi inaugurada em 14 de março de 1932; a Linha de Guimarães era comum com a Linha da Póvoa desde Senhora da Hora até à estação de Porto-Boavista. Por fim, o troço entre Porto-Boavista e Porto-Trindade, comum à Linha da Póvoa, foi inaugurada em 30 de outubro de 1938.
História: Antecedentes, planeamento, construção e inauguração
Em contraste com o centro e sul do país, onde a instalação dosa caminhos de ferro era habitualmente realizada através de concessões a empresa privadas, nas regiões a Norte do Rio Douro, predominou a intervenção estatal, com efeito, depois da construção, por parte do Governo das Linhas do Minho e Douro, também se previa que a instalação das ligações secundárias, afluentes das linhas principais, também lhe deveria ser directamente atribuída.
No entanto, tal não chegou a suceder, tendo a Linha da Póvoa sido concedida a um privado por um decreto de 1873.
Entretanto, o processo da construção da Linha de Guimarães distinguiu-se desta situação, tal como sucedeu com a Linha da Póvoa, uma vez que se baseou principalmente em iniciativas privadas. Com efeito a Linha da Póvoa foi concedida por um decreto-lei de 1873, tendo chegado até Famalicão em 1881. A Companhia da Póvoa possuía um projecto para continuar a linha além de Famalicão, até Chaves, passando por Guimarães, Fafe e Pedras Salgadas, que chegou a ser aprovado.
Na altura, e isto no tocante à Linha de Guimarães, o processo de constituição da sua rede viria a ser penalizado pela falta de método, o que se revelou nas várias modificações porque passou na sua concessão,. Aliás, o principal objectivo para a sua construção, foi sempre o acesso à produtiva região fabril nos vales do Ave e Vizela.
Em 11 de julho de 1871, o empresário Simão Gattai foi autorizado e recebeu a concessão para construir um caminho-de-ferro em sistema de “carros americanos”, utilizando carris por cima da estrada, com um metro de bitola, entre o Porto e Braga, passando por Santo Tirso e Guimarães; o concurso foi alterado em 28 de Dezembro de 1872, tendo sido incluído um ramal que, passando por Vizela e Fafe, ligasse com a Linha do Minho, “e uma linha métrica em leito próprio entre Trofa e Bougado”, com um ramal por Vizela até Fafe.
Em 17 de outubro de 1874, a concessão foi trespassada para uma companhia de nacionalidade inglesa, e um despacho de 18 de fevereiro de 1875 retirou a obrigação de construir o ramal; nesse ano, “também se limitou o traçado apenas de Bougado a Guimarães, e autorizou-se a utilização de via larga”.
Tendo-se revelado a construção muito morosa, “apenas foram construídos cerca de 6 quilómetros de via larga, entre Bougado e Santo Tirso”, entrando em falência a empresa( Minho District Railway Company Limited) no ano de 1879. O contrato iria ser revogado em 16 de abril de 1879, e, no mesmo dia, foi autorizado o projecto de António de Moura Soares Velloso e do Visconde da Ermida, que representavam uma nova empresa para a construção de” uma ligação ferroviária, em via larga, entre Guimarães e Bougado”, sem apoios do Estado; em 5 de agosto de 1880, foi aceite o pedido para que a linha fosse construída em via métrica.
Troço de Trofa a Vizela
O dia 31 de dezembro de 1883 ficará registado para sempre na história da Trofa: “O primeiro troço, com cerca de 16 quilómetros de extensão, entre TROFA e VIZELA, entrou ao serviço no último dia do ano”; o troço a partir da Trofa, e a travessia do Rio Ave, pela Ponte do Ave (a 1ª ponte entre Esprela (Trofa e Lousado), foi construído em via” algaliada”, em conjunto com a Linha do Minho.
Tanto na Trofa, início do troço, como em Vizela, o dia foi vivido com enorme entusiasmo e alegria, tal como foi registado pelos cronistas dessa época.
(continua)
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