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“É importante pensar se preciso disto, como é que isto foi feito e para onde é que isto vai depois”

Jornal do Ave

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É, incontornavelmente, o tema da viragem da década, mas há muito que faz parte da vida de Joana Coelho. Esta jovem portuense aprendeu que menos é mais no que toca a preservar o ambiente e desde criança que convive com gestos como reciclar, não desperdiçar água e reutilizar o que for possível. Em entrevista ao JA, a portuense sublinhou que a mudança está à distância de uma pequena reflexão sobre o que acontece ao que compramos, sublinhando, a título de exemplo, o problema da “fast fashion”, a tentadora roupa barata oriunda de um dos setores mais poluentes do planeta, o têxtil.

Jornal do Ave (JA): Sempre levou uma vida ligada à proteção do ambiente ou foi adaptando o seu estilo de vida ao longo do tempo? Quando é que sentiu que tinha de mudar os hábitos?
Joana Coelho (JC):
Desde pequena que via os meus pais com grande preocupação relativa ao desperdício e ao ambiente. Atos como o simples facto de fazer reciclagem, reutilizar o que conseguíamos ou poupar água em todas as ocasiões possíveis sempre fizeram parte da minha vida. Cresceu em mim como algo natural e tornou-se mais forte ao longo dos anos, especialmente nestes últimos em que tudo o que se está a passar no meio ambiente é aterrorizador.

JA: Como é decorreu esse processo? Quais os primeiros atos para a sustentabilidade?
JC:
Aos poucos fui percebendo que atos como a reciclagem não são o suficiente. Penso que os primeiros atos para a sustentabilidade passam por eliminar da nossa vida tudo o que é desnecessário e ganhar consciência do que fazemos, do que compramos e de como agimos. Por exemplo, relativamente ao plástico, podemos considerar se precisamos mesmo daquela garrafa de água pequena, da tampa para o copo da bebida, da palhinha para o nosso sumo ou do saco para aquelas duas coisas que compramos e que se calhar não precisávamos. É importante sair do conforto de ter tudo aqui e agora e pensar de que forma é que podemos agir sem prejudicar o ambiente à nossa volta. Leva paciência, mas eu vejo isso como um hábito e um músculo que pode ser exercitado. À medida que nos habituamos a não comprar uma garrafa de água em todos os sítios a que vamos, mais fácil se torna começar a levar a nossa garrafa reutilizável.

JA: Que gestos considera mais simples para as pessoas que pensam começar a adotar um estilo de vida mais sustentável?
JC:
É preciso pensar no que compramos e no desperdício. Seja no que for, é importante pensar “será que preciso disto?”, “como é que isto foi feito?” e “para onde é que isto vai depois?”. Por exemplo, é facilmente aplicável na roupa que compramos. A indústria da moda tem sido uma das maiores causas de poluição no planeta e isto deve-se à fast fashion e ao enorme poder de compra que as pessoas têm desde que os tecidos sintéticos evoluíram e a roupa se tornou muito barata. A produção de roupa utiliza imensa água, liberta imensos gases e a roupa além de durar pouco tempo, quando lavada liberta microfibras para a água, acabando no oceano e contribuindo para a poluição do mesmo. Todo o ciclo é devastador para o planeta e pode começar a ser resolvido se pensarmos se aquela camisola de 4 euros que vemos na loja vale mesmo a pena.

JA: Relativamente aos plásticos, como tem sido a adaptação à não utilização dos mesmos? Que estratégias adotou para usar o menos possível? É mais caro levar uma vida mais sustentável?
JC:
Desde há uns anos que me esforço para arranjar soluções que não envolvam o plástico. Obviamente que na nossa sociedade isso ainda é bastante difícil a 100 por cento, mas é incrível ver o quanto já consegui reduzir em apenas alguns anos. Há bem poucos meses, na empresa onde eu trabalho, conseguiram acabar com os copos de plástico nas máquinas de água e café. Conclui-se que nada disso era necessário, tendo em conta que existem copos e chávenas de vidro para o mesmo efeito. Mesmo na compra de cosméticos, existem soluções que não envolvem a necessidade de haver uma embalagem, como é o caso dos shampoos sólidos, barras de sabão, condicionadores em barra e mesmo barras hidratantes. Já existem mesmo lojas que permitem a devolução de embalagens ou que vendem recargas de cremes, por exemplo. Dependendo da situação, pode sim ser mais caro levar uma vida mais sustentável, mas no geral há bastantes situações em que a longo termo é possível poupar dinheiro. Um bom exemplo que está tão presente no dia a dia não as máquinas de café. O café comercializado em cápsulas para mim nunca fez sentido pela quantidade de lixo que gera. Uma máquina de café normal é mais cara do que uma de cápsulas mas, a longo termo, o café fica bastante barato e polui muito menos.

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JA: Que reação foi tendo das pessoas que a rodeiam? Há algum tipo de preconceito ou incompreensão pelo modo de vida que adotou?
JC:
Sim, mas tornou-se recíproco também. Se há pessoas que não entendem bem as minhas escolhas, também há quem as veja e se consiga “converter” lentamente. Há ainda o lado contrário, em que vejo eu pessoas que em 2019 ainda nem reciclagem fazem e usam e abusam do plástico, nessa situação quem não consegue compreender sou eu e o máximo que conseguimos fazer é alertar para o desperdício. Penso que vivemos numa altura em que a informação viaja bastante rápido e que o que não vemos ou não sabemos, é porque não queremos.

JA: O que considera que ainda é preciso ser feito para que a população se aperceba, verdadeiramente, dos impactos que a poluição terá no futuro?
JC:
Informação, ação e consciência. Nota-se que cada vez mais o tema é abordado, já não passamos um dia sem ouvir as palavras sustentabilidade, clima ou plástico. Mas tudo se processa de forma muito lenta numa altura em que já não temos tempo.

JA: Considera que discursos de ceticismo, como o de Donald Trump, podem contribuir para atrasar ainda mais o despertar de consciências?
JC:
Sim, por mais informação que tenhamos vai sempre haver quem não esteja a par ou não se queira informar. No caso dos Estados Unidos, o discurso de Donald Trump acaba por não afetar apenas o seu país, mas sim grande parte do planeta, já que os Estados Unidos da América são um dos países que mais emissões de gases lança para a atmosfera.

JA: Integra alguma organização/associação de defesa do ambiente?
JC:
De momento não. Tento participar o máximo de vezes em limpezas de praia, que é uma coisa que se começa a ver cada vez no nosso país mais regularmente. Noto um grande interesse da parte de quem me rodeia em começar a participar e é ótimo ver a quantidade de pessoas que se junta nesses eventos.

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