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Grande parte da natureza humana é a mulher que constrói (1)

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A saída para as bancas da edição 125 do Jornal do Ave coincide com o Dia da Mulher. Num mundo que ainda é marcado pela desigualdade entre homens e mulheres, não podíamos deixar de assinalar a efeméride. O JA homenageia a Mulher com três histórias de sucesso, profissionalismo e abnegação no feminino.

Uma mulher da Saúde que sempre pôs a família em 1.º lugar

É uma mulher da Medicina desde 1980, especialista em Saúde Pública e diretora executiva do Agrupamento dos Centros de Saúde (ACeS) de Santo Tirso/Trofa. O último estatuto foi alcançado em 2012, já depois de uma carreira construída em torno da promoção e proteção da saúde, com ligações à Direção de Serviços de Saúde da Sub-Região do Porto e à Comissão Distrital de Luta Contra a Sida, que presidiu durante quatro anos.
Mas Ana Maria Tato Aguiar é muito mais do que a vida profissional. Mãe de três filhos e atualmente com dois netos, esta mulher, nascida em Matosinhos a 19 de maio de 1957, orgulha-se pelo legado social que construiu até agora.
Apesar de estar inserida numa área na qual teve de investir muito do seu tempo, Ana Tato sempre colocou a família “em primeiro lugar”. “Como fui mãe aos 24 anos, iniciei a minha especialidade com dois filhos pequenos. Quantas vezes estudei e trouxe trabalho para casa, que fazia pela noite dentro depois de todos estarem a descansar. O trabalho não para porque temos uma vida familiar e a sociedade atual exige que sejamos mulheres, mães e profissionais. Sim, a pressão é grande”, argumentou.
Ainda assim, essa pressão não a proibiu de crescer profissionalmente e, aos 43 anos, com participação em projetos nacionais e internacionais, Ana Tato conquistou o grau mais alto da carreira, quando concluiu o exame para chefe de serviço.
Com um lado profissional “muito ativo”, alimentado por uma “imensa curiosidade de conhecimento”, a diretora do ACeS Santo Tirso/Trofa considera-se, “com orgulho”, muito feminina. “Considero que a convivência social, as famílias e os amigos são peças fundamentais para a construção da pessoa que sou”, acrescentou.
Ana Tato acredita que está a “cumprir” o dever como cidadã, ao “lutar todos os dias por servir os demais através de um trabalho bem feito e realizado com sentido de dedicação aos outros”. “Este meu papel tem sido reconhecido, o que me enternece, já que muitos também dão o seu melhor e não são reconhecidos”, afirmou.
Aos olhos dos outros, Ana espera que “possa passar a imagem da importância e alegria da vida familiar e da atuação para uma sociedade mais justa e mais igualitária”. Por defender que, na sociedade, “não podem existir cidadãos de primeira e de segunda”, Ana Tato tem como desafio profissional “organizar os serviços de saúde na área da Trofa de forma a atingir um nível superior, para que todos os utentes sintam que o Centro de Saúde lhes oferece o que necessitam para viverem com uma melhor qualidade de vida”.
Quanto às mulheres portuguesas, considera que falta mais ambição e participação social: “Devemos ir mais longe na escolaridade e na cultura, porque a sociedade desenvolveu-se a uma velocidade vertiginosa. A tecnologia está na frente e devemos acompanhar todas estas mudanças”.

Entrevista Completa

JA: Nota biográfica

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AT: Ana Tato Aguiar, nasci em Matosinhos a 19 de maio de 1957. Licenciada em Medicina em 1980, pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, sou mãe de 3 filhos e avó de duas netas. Iniciei a minha especialidade em Saúde Pública em 1984 e fui colocada, por concurso, na Centro de Saúde de Águas Santas, Maia, a 23 de maio de 1990. .Como especialista em Saúde Pública elegi como área de maior interesse, a Promoção e Proteção da Saúde, área que desenvolvi desde 1991 na Direção de Serviços de Saúde da Sub-Região de Saúde do Porto. Em 1999 iniciei funções na Comissão Distrital de Luta Contra a Sida do Porto tendo presidido a esta Comissão de 2000 até 2004, altura em que estas estruturas distritais foram extintas. Paralelamente e, a convite da Administração Regional de Saúde do Norte, integrei a equipa do então Centro Regional de Saúde Pública, onde chefiei o serviço de Promoção e Proteção da Saúde. Em janeiro de 2003 fui colocada no Centro de Saúde da Trofa por concurso para Chefe de Serviço onde também exerci funções como Autoridade de Saúde.

Em 2009 foram criados os Agrupamentos de Centros de Saúde de Santo Tirso/Trofa (ACES) e iniciei funções como Coordenadora da Unidade de Saúde Pública do ACES.

Desde 23 de outubro de 2012 que exerço funções como Diretora Executiva do ACES.

JA: Alguma vez se sentiu prejudicada no exercício das suas funções por ser mulher?

AT: Nunca me senti prejudicada no exercício das minhas funções, já que na minha profissão há muitos anos que as mulheres são parte integrante dos profissionais de saúde. Mesmo no exercício das minhas funções de Autoridade de Saúde nunca senti nenhuma diferença, quer no trabalho desempenhado com profissionais de outras instituições, quer pela população em geral.

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JA: Foi difícil chegar onde conseguiu chegar a nível profissional?

AT: Não foi fácil, isto porque na medicina toda a progressão na carreira exige muita dedicação, estudo e exigência! Como fui mãe aos 24 anos iniciei a minha especialidade com dois filhos pequenos, conciliar a vida familiar com a profissional, exigiu-me muito trabalho e estudo que se prolongava pela noite dentro, depois de deitar os meus filhos. De facto, ser médica é uma paixão e um serviço que me invadiu desde muito cedo na vida e sempre foi um objetivo claro. Tal como nos estudos, não perdi uma oportunidade para ir mais longe. Integrei projetos nacionais e internacionais e, em 2000, fiz exame para chefe de serviço, o grau mais alto da carreira, tinha então 43 anos e era mãe de 3 filhos.

JA: Considera que há cargos/profissões que são mais bem executadas por mulheres/homens?

AT: Não concordo que haja profissões ou cargos mais dirigidos para mulheres ou homens. Para o exercício de uma profissão, considero que em primeiro lugar, qualquer um/uma deve possuir competências pessoais, pois são a base para desenvolver com responsabilidade e profissionalismo uma determinada profissão e/ou exercer determinado cargo. Somos pessoas, vivemos e trabalhamos com outras pessoas, gerimos pessoas e conhecimento. E estas qualidades existem quer na mulher, quer no homem.

JA: Alguma vez sentiu pressão para conseguir dar a mesma atenção à vida profissional e à vida familiar?

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AT: Claro que sim! Apesar de os homens já partilharem muitas funções em casa, a organização da casa e da família é feita por nós. Quando um filho está doente é geralmente a mulher que demonstra mais flexibilidade para se adaptar. Se as tarefas já são muitas vezes distribuídas pela mão e pelo pai, a verdade é que somos nós as que damos mais horas para a vida familiar. Quantas vezes estudei e trouxe trabalho para casa, que fazia pela noite dentro depois de todos estarem a descansar. O trabalho não para porque temos uma vida familiar e a sociedade atual exige que sejamos mulheres, mães e profissionais. Sim, a pressão é grande!

JA: Como se descreve enquanto mulher?

AT: Para mim a família está em primeiro lugar! Por isso, posso dizer que me considero com orgulho, muito feminina. Mas tenho um lado profissional muito ativo, tenho uma imensa curiosidade de conhecimento, que me desafia sempre a ir mais além. Sou muito positiva, pragmática e com um grande sentido de responsabilidade profissional. Considero que a convivência social, a família e os amigos, são peças fundamentais da construção da pessoa que sou.

JA: O que sente por ser uma mulher de relevo no seu concelho?

AT: Sinto que tenho e estou a cumprir o meu dever como cidadã e que luto todos os dias por dar o meu melhor. Uma das formas de servir os demais é através de um trabalho bem feito e realizado com sentido de dedicação aos outros. É isto que luto por fazer e este meu papel tem sido reconhecido, o que me enternece, já que muitos também dão o seu melhor e não são reconhecidos. Sinto-me uma pessoa afortunada

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JA: Como vê o contributo que dá à sociedade?

AT: O contributo de todos nós, na minha opinião é dado pelo exemplo, pela vivência com os outros e pela empatia que criamos com todos os que nos rodeiam. Espero que como mulher e mãe possa passar a imagem da importância e alegria da vida familiar, que possa contribuir com a minha atuação para uma sociedade mais justa, mais igual no sentido social. Não pode existir no nosso trato com os outros, cidadãos de primeira e de segunda, já que somos todos cidadãos de plenos direitos e de plenos deveres. E como profissional de saúde pretendo organizar os serviços de saúde na área da Trofa de forma a atingir um nível superior, para que todos os nossos utentes sintam que o Centro de Saúde lhes oferece o que necessitam para viverem com uma melhor qualidade de vida.

JA: O que acha do Dia Internacional da Mulher? Como vive esta data?

AT: Os dias mundiais e neste caso particular, o Dia Internacional da Mulher, é importante a meu ver, para dar realce ao papel da mulher na nossa sociedade e no mundo inteiro! Tanta injustiça, tanta violência, tanta pobreza, tanta desigualdade que nos nossos dias convivem com o sucesso, a fama e o poder. Este dia tem que trazer para as primeiras páginas a luta das mulheres mais desfavorecidas e mais desprotegidas, independentemente do país do mundo em que vivam. Mas a luta por todas nós, essa é luta de todos os dias.

JA: Como vê o papel da mulher na sociedade atual?

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AT: Considero o papel da mulher determinante na sociedade atual. Eu diria que o papel da mulher foi sempre determinante, de uma forma mais ativa ou mais passiva. Esta minha afirmação não tem a haver com luta ente homens e mulheres ou por uma certa forma de feminismo, que eu considero até que nada tem de feminino. A mulher na sociedade atual deve ser valorizada pelo tipo de participação que temos na sociedade de uma forma igual à do homem, com as mesmas oportunidades, com os mesmos direitos e os mesmos deveres, com equidade social e económica. As diferenças que ainda existem não podem estar ligadas ao facto de se ser mulher, mas sim ao facto de sermos competentes a nível profissional e de termos as mesmas oportunidades, principalmente quando se fala de cargos de chefia ou liderança.

JA: O que falta às mulheres portuguesas?

AT: As mulheres portuguesas necessitam de serem mais ambiciosas e participativas na sociedade. Devemos ir mais longe na escolaridade e na cultura porque a sociedade desenvolveu-se a uma velocidade vertiginosa. A tecnologia está na frente e devemos acompanhar todas estas mudanças!

Para que nós, mulheres portuguesas possamos estar à altura do desafio, temos que ser muito analíticas, isto é, observar e saber escolher o mais adequada a cada situação. Para isto, devemos estar bem preparadas intelectualmente, para podermos estar aptas a fazer esta escolha de uma forma consciente e em plena liberdade. Mas para fazer tudo isto, temos que primeiro sermos mulheres bem formadas, com grandes competências humanas e sociais. Só assim, nos vejo a construir uma sociedade mais justa para todos.

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