Crónicas & Opinião
Memórias e Histórias do Vale do Ave | Igreja Matriz de Joane: Memórias de um monumento
“Quando se esperava que após séculos de história fosse considerada finalmente imóvel de interesse público, um processo que se tinha iniciado em 1974, eis que em novembro de 1977 a Assembleia de Freguesia aprova a demolição da velha igreja, que servia e estava a ocupar o terreno conforme foi explicado anteriormente. “


Estimados leitores, após praticamente 8 anos de escrita sobre a história do concelho da Trofa, continua o périplo pelas freguesias dos concelhos vizinhos. Desta vez, a atenção recai sobre a freguesia industrializada de Joane, que é na atualidade uma das marcas de identidade de Famalicão. A sua pujança e crescimento contínuo alimentaram um progresso económico que seguramente tem pouco paralelismo com localidades próximas.
Seguramente que uma das primeiras ideias que surgem no pensamento relativamente a esta localidade é a sua vertente comercial, todavia, não podemos ignorar que nos anos 70 foi cometido um erro de “lesa-pátria” na manutenção e conservação do património, concretamente a demolição da sua Igreja Matriz.
É evidente a importância histórica de toda aquela área. A freguesia de Vermoim que fica próxima dos seus limites geográficos, teve inclusivamente um castelo na sua área, foi território senhor do seu destino demonstrando a sua importância, com registos de ataques pelos Vikings, o que pode ser encarado obviamente como um sinal de importância económica e também política.
A prova de antiguidade desta freguesia é atestada desde o século XI, quando o inventário das herdades e igrejas doadas ao Mosteiro de Guimarães ou Livro de Mumadona menciona a igreja como “e na raiz do Castelo de Vermoim, toda avila de Froilão, pelos seus limites antigos, juntamente com a Igreja de S. Salvador e Santa Maria”. Alguns anos mais tarde, em 1220, a referência nas inquirições a Joani ou Johani, sendo que esta igreja tinha várias searas e seis casais. A referência às searas não é despropositada, porque os cereais tinham extrema importância neste momento da história e era a base da alimentação do comum cidadão.
No século XVII, a Igreja tinha já duas naves, com tetos pintados e no altar-mor estavam expostas as imagens, do Salvador, São Rafael Arcanjo e Nossa Senhora das Neves, com a capela do Santíssimo a possuir tribuna e sacrário, com uma grande produção de arte religiosa. A importância deste templo pode ser encarada como sinal da vitalidade económica de uma localidade.
No século XVIII, assistimos claramente a uma reforma do templo, em que o mesmo tinha de se adaptar aos seus novos desafios, nomeadamente ao nível do conforto para quem desejava frequentar as suas missas e restantes rituais religiosos, que uma igreja de estrutura já bastante antiga estava longe de ser o ideal.
No ano de 1758, é descrita a Igreja como tendo duas novas naves, sendo que uma delas é a que tinha a capela-mor, onde estava a imagem do Salvador e a outra a do Santíssimo Sacramento, e tinha também a sua capela. Referindo os documentos sobre si, como se fosse a igreja o Mosteiro de Joane.
Nas duas últimas décadas daquele século é construída a torre sineira, sendo que várias eram as obras que se preocupavam em destacar algum cuidado também na organização do espaço como a sua semelhança, atendendo que estamos entre dois espaços que na prática era só um, mas, tinha de ser criada uma imagem uniforme.
Em 1955, inicia-se a construção de uma nova igreja de grandes dimensões, junto à antiga, em que a nova igreja iria ocupar parte do terreno onde estava antiga, sendo para isso necessária a sua demolição. Passados dez anos enquanto se procedia à desmontagem dos paramentos ali existentes eram descobertas pinturas murais de 1500. Algumas delas de elevado valor artístico, sendo uma marca de progresso económico e religioso da região.
Quando se esperava que após séculos de história fosse considerada finalmente imóvel de interesse público, um processo que se tinha iniciado em 1974, eis que em novembro de 1977 a Assembleia de Freguesia aprova a demolição da velha igreja, que servia e estava a ocupar o terreno conforme foi explicado anteriormente. Sendo que em 11 de março de 1978 foi concretizada a sua demolição. Quando os técnicos se deslocaram àquele espaço para recolher os painéis, eis que só existia uma pedra com uma pintura a fresco e assim se perderam séculos de história.
Ainda estava na faculdade a fazer a minha licenciatura em história e eis que quando disse que era da Trofa a um dos meus docentes foi dito por ele que em Joane tinha existido um importante tempo religioso e que este tinha sido destruído por talvez falta de noção do valor da história e identidade deste território.
Esperemos que este erro tenha servido de escola para o futuro e que não volte acontecer, mas, isto será ser otimista de mais, um dos meus crónicos defeitos…
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