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Memórias e Histórias do Vale do Ave | Ribeirão – A Terra Negra

O território que corresponde à freguesia de Ribeirão sempre foi de intricada história, sobretudo na fase contemporânea em que a criminalidade no nosso país estava ao rubro e poucas eram as respostas que a política pública de segurança poderia dar aos cidadãos.

Jornal do Ave

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Praticamente oito anos passaram desde a primeira crónica, muito foi escrito nestas páginas e muito espero ter contribuído para ajudar a construir a identidade da Trofa, fazendo como o agricultor costuma fazer. Atirar pequenas sementes à terra na esperança que nela surja no futuro o alimento do dia a dia.

A história para mim é uma necessidade, um anseio em perceber o mundo que nos rodeia, perceber a razão das coisas e inquirir sobre a nossa identidade na procura de soluções.
Atendendo ao carácter generalista do Jornal do Ave que não é só lido no município da Trofa, mas, também em Santo Tirso e Famalicão, foi por mútuo acordo com a direção deste jornal que estas crónicas tivessem uma maior amplitude geográfica.

Não podemos ignorar que devemos procurar agradar a todos, procurar mais públicos e obviamente maior envolvência nos nossos labores, todavia, tudo isto deve decorrer com conta peso e medida.

Após, conforme foi descrito anteriormente nesta crónica, os oito anos de escrita sobre a história da Trofa eis que surge agora a oportunidade de escrever sobre territórios vizinhos que, na prática, estão interligados com a história desta comunidade.

Nesta primeira incursão pela história de um território vizinho, eis a referência para a vila de Ribeirão, que faz fronteira com a Trofa, e onde muitos trofenses acabaram nos últimos anos por procurar fixar a sua residência, o que fez com que os laços entre as duas comunidades fossem cada vez mais estreitos.

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O território que corresponde à freguesia de Ribeirão sempre foi de intricada história, sobretudo na fase contemporânea em que a criminalidade no nosso país estava ao rubro e poucas eram as respostas que a política pública de segurança poderia dar aos cidadãos.

Assim, com naturalidade, surgiriam na imprensa e também nos vários livros, as referências literárias a estas práticas de bandidagem, os protótipos do crime organizado neste território Camilo Castelo Branco nas “Novelas do Minho” à Terra Negra (nome pelo qual era conhecida a localidade de Ribeirão) e à existência de uma quadrilha que era liderada por Luís Meirinho, enquanto que José Augusto Vieira na publicação “Minho Pitoresco” refere uma quadrilha de salteadores conhecida como “A malta dos Vendas”.

O primeiro autor era conhecido pela sua capacidade de escrever sobre a realidade, adaptando um pouco as histórias, mudando por vezes o nome das personagens ou então mergulhando de forma entusiástica na realidade, até porque ele foi o primeiro autor profissional da nossa praça, se queria comer tinha de escrever e o tempo, ou melhor, a falta de tempo não é amiga da imaginação, preferindo recorrer ao pragmatismo da simples realidade.

Um importante apontamento deve ser concretizado relativamente a este assunto da criminalidade: era relativamente fácil enveredar por estas vidas, até porque o tecido económico era frágil, as oportunidades escasseavam, muitos tinham caído em desgraçada devido a más apostas na sua carreira política e rapidamente se tinham tornado inimigos do regime.

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A alternativa, para muitos que tinham caído em desgraça, mais não foi do que recorrer a este tipo de prática, até porque muitos tinham filhos em casa para alimentar, e a fome não escolhe nem hora nem momento.

Da mistura da história com a lenda resulta a memória de acontecimentos negros da cor da terra.

O discurso historiográfico popular é cheio de mitos e fantasias, inclusivamente os antigos ribeirenses falavam da existência de uma estalagem onde os hóspedes eram atraídos, para serem roubados, posteriormente assassinados e por fim atirados a um poço.

Conta-se igualmente que os salteadores se reuniam numa das muitas tabernas existentes na localidade, à hora da missa dominical, para escolher a vítima seguinte.

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O monumento mais marcante de toda esta situação é o Oratório do Senhor dos Perdões que diz a lenda que terá sido mandado erigir por um viajante que escapou à violência dos salteadores. Uma violência que por vezes era extrema e que poderia resultar facilmente em morte da vítima.

O discurso de que os portugueses são por norma pacíficos e tranquilos é apenas uma fábula, porque a história por diversas vezes já nos ensinou que frieza, e requintes de malvadez foram imagens de marca de muitos portugueses.

Mais tarde, já no início do século XX, foi construído o atual santuário, às custas de um emigrante ribeirense regressado do Brasil, onde anualmente se realiza uma romaria muito concorrida pelas gentes de Ribeirão e das freguesias vizinhas, no último ou no penúltimo domingo de agosto.

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