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Os desafios da Educação e da Formação Profissional

Será fácil perceber que o futuro e produtividades das empresas, assim como de um país, passará pela qualificação das pessoas.

Jornal do Ave

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Todos os setores de atividades, sejam eles a indústria, serviços ou comércio, têm vindo a evoluir muito tecnologicamente nos últimos anos.

As condições de trabalho melhoraram, as empresas automatizaram-se e investiram em máquinas e novos serviços, pelo que nos dias de hoje existe a necessidade de recursos humanos com valências na área da literacia digital, tecnologia, inovação e muita criatividade.

Apesar de toda a automatização e melhorias tecnológicas, não reduziu o número de postos de trabalho. Mas aumentou a procura de técnicos mais qualificados para estes novos desafios e novas oportunidades de emprego.

O gráfico abaixo demonstra as necessidades de recursos humanos em função das suas qualificações, no setor da metalurgia e metalomecânica. Contudo, esta imagem reflete-se em quase todos os tipos de setores de atividade.

Será fácil perceber que o futuro e produtividades das empresas, assim como de um país, passará pela qualificação das pessoas.

No entanto, não será fácil, num país aonde se continua a cultivar um estigma de que a formação profissional é para os jovens que não têm apetência ou motivação para o sistema de ensino oficial.

Vivemos num país em que o sistema de Ensino e de Formação Profissional está dividido entre o Ministério da Educação e o Ministério do Trabalho, não existindo interligação entre os dois sistemas de ensino e de formação. No momento atual, vivemos a criação de Centro Tecnológicos Especializados que estão a ser criados em instituições do Ministério da Educação, sem experiência no setor, enquanto os centros de formação financiados pelo Ministério do Trabalho já se encontravam equipados e com know-how demonstrado ao longo do tempo. Estamos perante uma “duplicação de recursos” que não se justifica, e se existissem sinergias, existiria uma maior rentabilidade.

Mas nos dias de hoje, quando falamos em ensino e qualificação, confrontamo-nos com grandes dificuldades. Temos de perceber que o método tradicional de ensino já não funciona e não está adaptado às exigências dos dias de hoje.

Os jovens mudaram, as motivações mudaram, a capacidade de estar atento e de aprender num ambiente de ensino e formação maioritariamente expositivo já não funciona.

Desta forma, temos de perceber as gerações X, Y, Z e Alfa, quais as suas características específicas, as suas maneiras de pensar, de agir e de aprender.

A Geração X, nascida entre 1965 e 1980, contempla uma geração de pessoas que viveram na altura da guerra fria e que lutou muito pelos direitos políticos e sociais. Trata-se de uma geração com uma enorme capacidade de adaptação e independência e que dava muito valor ao diploma formal, à capacitação e à estabilidade familiar e profissional. Cresceram numa época em que as mudanças sociais e tecnológicas cresciam a um ritmo galopante, dando-se a transição da era analógica para a era digital. Viveram momentos de aprendizagem por forma a introduzir e consolidar as tecnologias de informação e comunicação a nível profissional e pessoal.

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Geração Y, nascida entre 1981 e 1996, não tinha como prioridade o trabalho intenso, a formação de uma família e a busca de estabilidade de uma carreira, comparativamente com a geração anterior. Iniciaram os seus primeiros passos na era digital. Geração que assistiu a uma acelerada evolução tecnológica, económica e social. Esta geração aprendeu a valorizar a conectividade, a diversidade, a flexibilidade no trabalho.

Geração Z, nascida entre 1997 e 2010, são nativos digitais, pelo que têm uma relação intrínseca com o universo da internet, redes sociais e acesso a recursos tecnológicos. Focam-se em diversas frentes e utilizam diversas fontes de aprendizagem. Acompanham os acontecimentos em tempo real e vivem uma comunicação impessoal e centrada em meios digitais e online.

Possuem um comportamento protetor de questões ambientais, sociais e de identidade. A capacidade de estarem atentos a absorverem informação, reduz-se a períodos de tempo bastante curtos o que obriga a mudar os métodos de ensino para algo mais motivador.

Geração Alfa, nascida a partir de 2010, é uma geração que nasceu numa era de enorme exposição de tecnologia e de redes sociais. Possui muitos estímulos e está habituada a usar os meios digitais como forma de entretenimento e de procura de informação. Geração que cresce num mundo repleto de tecnologia e conectividade. Aqui cria-se um enorme desafio para os professores e formadores dado que esta geração requer educação mais dinâmica, ativa, personalizada e com utilização de múltiplas plataformas de ensino. De certa forma são, no entanto, mais flexíveis e com um maior potencial de inovar e buscar soluções para problemas de forma colaborativa. Gostam também de ser um pouco protagonistas, mas apenas se envolvem em atividades mais concretas. Esta geração gosta de realizar atividades, mas tem de perceber de imediato qual a sua funcionalidade, caso contrario não absorve a sua atenção.

Os sistemas de educação e formação lidam, diariamente, com pessoas oriundas de todas as gerações acima referias, seja na sua formação escolar oficial/obrigatória, assim como na formação e requalificação profissional e assim como no ensino superior. Ou seja, a forma de motivar e fazer focar o aprendiz é diferente consoante a sua geração. Muitas vezes, numa sala de formação com alunos heterogéneos torna-se necessário encontrar um mecanismo que permita atrair a atenção e foco de todas as gerações.

Neste momento está a decorrer a atualização do Catálogo Nacional das Qualificações que visa mudar a maneira de pensar e de transferir conhecimentos. Até à data atual, o catálogo é um repositório de UFCD’s (Unidades de Formação de Curta Duração) que apenas especifica os objetivos e os conteúdos programáticos. Este método funcionou em gerações anteriores que absorviam informação em aulas/sessões de formação meramente expositivas. No entanto, os centros de formação desde sempre se focaram no “aprender fazendo”, tendo contacto com equipamentos e realização de projetos concretos.

A atualização do Catálogo Nacional das Qualificações prevê a realização de um documento mais completo que especifica Competências no âmbito de uma saída profissional descrevendo as realizações, as aptidões a alcançar, assim como os critérios de avaliação e os recursos necessários para alcançar a competência. Aqui os conteúdos/conhecimentos são apenas uma referência para alcançar a competência.

Este será um passo para a modernização do sistema de formação profissional, e esperamos que o Ensino Oficial siga este caminho. Trata-se de um contexto muito virado para as realizações e aptidões a alcançar e não apenas descarregar os conteúdos de forma expositiva. Alguns centros de formação já utilizam este contexto no âmbito da formação profissional utilizando a Aprendizagem Baseada em Projetos (Project Based Learning). É um contexto que requer uma alteração do “mindset” do professor/formador uma vez que tem de pensar em alcançar competências e aptidões e não apenas ministrar conteúdos.

No setor da Metalomecânica que é composto maioritariamente por indústrias transformadoras, as empresas têm vindo a acrescentar valor ao seu produto. Na última década, as empresas, em vez de se limitarem a produzir peças “soltas” que seriam assembladas no seu cliente final como a industria aeronáutica, automóvel, etc, nos dias de hoje oferecem soluções que vão muito além da maquinação de peças, começando a realizar a sua montagem e integração em sistemas pneumáticos, óleo-hidráulicos, sistemas automatizados e até mesmo apresentarem soluções de construção de máquinas completas prontas a entregar aos seus clientes. Estas mais-valias têm vindo a aumentar a competitividade das empresas nacionais, sendo que as empresas de metalomecânica são cada vez mais empresas de eletromecânica.

Para tal, o setor da Metalomecânica procurou soluções de formação em regime de prestação de serviço, fora do Catálogo Nacional das Qualificações, por forma a dotar os seus colaboradores com competências para poderem evoluir e torna-los competitivos nomeadamente no mercado internacional.

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A metalurgia e metalomecânica é a base de muitos outros setores da indústria. Desde os pequenos produtos de consumo, grandes instalações industriais, as bicicletas, os automóveis, os comboios, alfaias agrícolas, mobiliário, máquinas industriais até à simples cadeira de dentista, a metalurgia e metalomecânica está presente no nosso dia a dia e com grande impacto na vida dos cidadãos.

Mas nem tudo é mau, se olharmos para as conquistas de Portugal nos últimos anos, podemos perceber que em algumas áreas de formação, estamos ao mesmo nível ou até mesmo acima de outros países Europeus e Mundiais. Temos é de alavancar estes exemplos para todos os setores do Ensino e Formação Profissional.

Adelino Santos
Diretor do núcleo do CENFIM da Trofa

1ª pagina edição Papel

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