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Santo Tirso

“Poesia a Três” estreia em Santo Tirso com sessões abertas e solidárias

O grupo prepara agora um recital dedicado à obra de António Gedeão, marcado para esta quinta-feira, às 21h00, no café “O Thigaz”, intitulando-o “Inútil defender este animal aflito”

Jornal do Ave

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O concelho de Santo Tirso ganhou recentemente um novo espaço de expressão literária com a criação do grupo “Poesia a Três”, fundado pelo escritor Rui Sobral, que está acompanhado por Maria Augusta Carvalho e Silva Pereira. A ideia nasceu de um encontro casual no café “O Thigaz”, onde Rui apresentou o projeto já estruturado, definindo desde o início que “teríamos de ser os três no grupo ou nada seria”, recorda Maria Augusta. Com esta premissa, o trio lançou-se na missão de aproximar a poesia da comunidade, promovendo sessões abertas ao público e experiências inclusivas.

A primeira apresentação, em outubro, registou forte adesão, com o público a reagir com entusiasmo e interesse, algo que Silva Pereira considera “de louvar e primordial para divulgar a poesia”. O grupo prepara agora um recital dedicado à obra de António Gedeão, marcado para esta quinta-feira, às 21h00, no mesmo local, intitulando-o “Inútil defender este animal aflito”, com poemas escolhidos a pedido da filha do autor, Cristina Carvalho.

Além da vertente artística, o projeto integra uma componente solidária, levando poesia a instituições locais em dezembro, com o objetivo de “elevar a esperança e aumentar a autoestima de todas as pessoas”, sublinha Silva Pereira. Para o futuro, o grupo pretende manter eventos regulares e continuar a promover a poesia de forma inclusiva, assegurando que “todas as pessoas tenham a possibilidade de assistir e até, quem quiser, participar”.

Jornal do Ave: Como surgiu a ideia de criar o grupo “Poesia a Três” e o que vos motivou a avançar com este projeto?

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Maria Augusta (MA): Sendo o “Poesia a Três” um grupo de poesia, o pai do projeto é Rui Sobral, um escritor e poeta, tirsense como eu, que um dia conheci pessoalmente após ler e reler o seu livro “noturnos”. Há momentos que definem uma trajetória futura e, numa tarde, quando entrei no Café Cultural e Social “O Thigaz”, estava longe de pensar que iria encontrar o Rui como apresentador do livro em causa. No final, em conversa a que se juntou o Silva Pereira, também ele meu amigo e companheiro de outras andanças de poesia, falei-lhe do livro “noturnos” e logo ali nasceu algo que não viria a morrer. Dias depois, o Rui apresentou-me, por escrito, a ideia em projeto, bem esquematizada, tudo bem estruturado; dizia mesmo que teríamos de ser os três no grupo ou nada seria. Como recusar, se só experimentando e tentando, eu posso também aprender e ser melhor?

Rui Sobral (RS): Sim, e esse ponto que a Maria Augusta refere de “sermos os três ou nada” foi essencial para a fundação e consequente coesão do grupo. Quando estivemos os três juntos pela primeira vez, eu compreendi o amor e fé que temos na poesia, nos poemas, na literatura, arte, cultura e liberdades, e foi esse o gatilho para fazermos algo que gostamos e partilharmos com a comunidade. 

Conhecemo-nos todos juntos pela primeira vez no Thigaz 3 e, além de ser uma casa que nos recebe como casa, é também um lugar de amigos, um lugar bonito e propício ao encontro da arte com as pessoas, então, teria de ser lá o marco zero da nossa caminhada.  

A vossa primeira apresentação, em outubro, teve uma forte adesão. O que acham que explica esta receção tão positiva do público?

MA: A primeira sessão teve, de facto, forte adesão. Se, por um lado, no cartaz, o nome e a foto do Rui Sobral entre os dois outros companheiros conferiu credibilidade ao projeto – o Rui tinha já lançado e apresentado em vários locais deste país o seu “noturnos”, por outro, não éramos três desconhecidos no mundo das pessoas que gostam de poesia. A reação do público que ali se deslocou, os sorrisos que tivemos, as palavras que ouvimos foram como que um catalisador positivo da nossa vontade de continuar.

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RS: Aliás, das várias considerações que fizeram à sessão, uma das mais repetidas consistia numa manifestação de espanto e alegria pela oportunidade que estava a ser dada às pessoas de, numa quinta-feira à noite, saírem de casa para assistir a uma sessão de poesia, algo que, afinal, e ao contrário do que tantas vezes se diz, as pessoas valorizam e esperam, seja poesia, seja música, seja outras expressões artísticas. Sobre o modelo, ele não é estanque, cada sessão ou espetáculo tem uma preparação e dinâmica diferentes, por exemplo, na primeira sessão dissemos poemas após o respetivo trabalho de curadoria e ordenação, e ainda abrimos espaço para o público participar dizendo poemas que preparamos para esse efeito. Já a sessão que faremos no dia 27 deste mês sobre a obra de António Gedeão e que demos o nome “Inútil defender este animal aflito”, tem um plano de ação diferente, e o mesmo acontece com as sessões que estamos a preparar para dezembro.

Referem que não conhecem outras iniciativas semelhantes no concelho. Acredita que existe espaço — e necessidade — para mais poesia em Santo Tirso?

Silva Pereira (SP): Cá em Santo Tirso, esta ideia é de louvar e a continuidade, pela parte que me toca, é primordial de forma a divulgar a poesia.

MA: “Ser poeta é ter sede e fome de infinito” – uma poeta alentejana o dizia. Já pensou no que seria o mundo sem poetas que nos elevem ao tal infinito que queremos com sinal mais, ou seja, à poesia? Neste aspeto, tudo quanto possamos fazer e onde o fazer é pouco. Num tempo de guerras, também a poesia é arma de amor, é arma Paz!

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O que podemos esperar do espetáculo dedicado à obra de António Gedeão?

MA: A sessão dedicada a António Gedeão, um Recital aberto ao público com o nome “Inútil definir este animal aflito” será no mesmo local e mesma hora da dedicada ao “noturnos” do Rui Sobral, 27 de novembro às 21h00, três dias depois da data em que Rómulo de Carvalho nasceu, data essa que deu origem ao “Dia Nacional da Cultura Científica”, que sempre na minha escola comemorei. Rómulo/Gedeão. Quase uma solução homogénea, uma amálgama entre um cientista e um poeta que aos 50 anos publicou – sob pseudónimo – o seu primeiro livro. Livros com títulos ligados à Ciência, de “Movimento Perpétuo” a “Máquina de Fogo”, de “Teatro do Mundo” a “Linhas de Força”; posteriormente, “Poemas Póstumos” e “Novos Poemas Póstumos”. São poemas que falam de Paz, que falam de guerra, sempre contra a guerra! Que falam de (in)justiça, que falam do sonho, que falam de amor. Sem nunca esquecer a ciência, a exatidão, o rigor. É isso que da nossa sessão esperamos e no seu título concentramos – na ciência de Rómulo, a Poesia de Gedeão. Para que o Homem, sonhando, querendo, metendo mãos à massa, planeando, formulando hipóteses, experimentando, quantas vezes num passo atrás, dois à frente, possa, finalmente, num mundo de humanidade feito, ter sido o impulsionador da tal “bola colorida entre as mãos de uma criança”.

RS: Este será um Recital muito especial, porque vem mostrar poemas de um poeta dos maiores, de uma obra infinita de valor. Diremos poemas amplamente conhecidos das pessoas e outros de igual importância, mas menos considerados. Acreditamos que será uma grande oportunidade para as pessoas assistirem a uma sessão de poesia gratuitamente e que visa oferecer incitações ao pensamento e reflexão, trazer esperança e alguma coisa mais que não estamos a pensar. É importante referir que a filha de António Gedeão, a grande escritora Cristina Carvalho, a pedido, indicou poemas que serão ditos por nós na noite de quinta-feira. Então, parece-nos que serão vividos momentos muito especiais.

Em dezembro vão levar poesia a três instituições de forma gratuita. Como nasceu esta componente solidária do projeto? Sentem que a poesia pode ter um impacto emocional especial junto de públicos mais vulneráveis?

RS: A componente solidária deste projeto não tem voz somente nas sessões que pretendemos fazer em dezembro, mas sim é uma matriz nossa enquanto grupo de poesia. O estado do mundo, atual e o que a História nos apresenta, carece de esperança, de compreender que somos diferentes e nessa diferença as oportunidades não são as mesmas para todas as pessoas, que independentemente de, possivelmente, eu ter forma de subsistir, de me alimentarmos, tomar um duche de água quente e me vestir de manhã, se calhar o meu vizinho está a passar fome, ou que, por eu estar numa Europa aninhada entre conflitos, isso não significa que o mundo inteiro não está a arder como está, e como Portugal está. Então, acreditamos que a poesia pode salvar alguma coisa ou alguma vida, e por isso tentamos, com as nossas armas, por mais lentas que sejam, controlar o incêndio.   

SP: Sim, sentimos, sem dúvida, é uma forma de contributo para elevar a esperança e aumentar a autoestima de todas as pessoas que queiram estar presentes, independentemente da sua condição.

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MA:A componente solidária sempre nos foi, enquanto pessoas solidárias, intrínseca. Poesia não rima com capital. Poesia rima com solidariedade, rima com amizade, rima com partilha, rima com Paz, rima com, quantas vezes, ver olhos cansados de vida, sorrir e, nesse sorriso, nos deixarmos embalar e ir. E regressarmos com a certeza de que somos mais ricos, mais humanos, que trazemos connosco mais do que aquilo que levámos.

Têm planos para transformar estas ações em eventos regulares?

RS: O grupo Poesia a Três, apesar de recente, tem o que é mais importante nestas coisas: a honestidade e a vontade de trabalhar. E a verdade é que trabalhamos bem juntos, quer nos ensaios e reuniões, quer nos momentos de pôr em prática o que idealizamos, então, temos condições para continuar com eventos regulares. Veremos o que acontece.

MA: Claro que sim! “Eles não sabem” mas “O sonho comanda a vida”, não é? Sonhar com os pés bem assentes na terra. E se assumimos, com tanto gosto e empenho, este projeto, não será para, salvo contrariedades que não possamos controlar, dele desistirmos.  

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Que objetivos gostariam de atingir com este grupo, a médio e longo prazo?

MA: Que tenhamos saúde, pois vontade não nos faltará para levarmos avante tudo quanto nas nossas cabeças já fervilha, ideias que pretendemos em 2026 desenvolver, projetos que no devido tempo anunciaremos não faltarão e muito menos deixaremos de lutar pela sua concretização.

RS: Fundamentalmente, queremos continuar a dizer poemas e a dizê-los de um modo inclusivo, ou seja, que todas as pessoas tenham a possibilidade de assistir e até, quem quiser, participar.

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