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Polarização

Jornal do Ave

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Grão a grão, a polarização está a fracturar a nossa sociedade, um pouco à imagem daquilo que acontece noutras geografias, com os Estados Unidos à cabeça.

Aquilo que se passou no final de Outubro, em alguns dos bairros mais pobres e segregados da Área Metropolitana de Lisboa, e muitas das reacções que se lemos e ouvimos na altura, não auguram nada de bom. São, isso sim, de perder a fé na humanidade.

No ano em que se assinalam 50 de democracia, ainda há quem celebre a morte de uma pessoa, quem defenda que não deve existir diálogo com os residentes daqueles bairros, quem garanta que todos ali são criminosos e que devem ser sujeitos a uma lei diferente daquela que se aplica aos restantes portugueses, baseada na força bruta.

Quem se esqueça da velha lição da Alemanha nazi: primeiro vieram pelos comunistas, quem não era comunista não deu importância, e, num ápice, milhões de judeus eram massacrados nas câmaras de gás. Fossem de comunistas ou capitalistas, liberais ou conservadores.

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Há também quem defenda que todos os polícias são uns porcos fascistas, que agem de forma musculada por gosto, que têm até prazer em provocar sofrimento às pessoas, porque são desprovidos de sentimentos e humanidade.

Pessoas que se esquecem que os polícias cumprem ordens, baseadas nas orientações de políticos em funções no Ministério da Administração Interna, que há poucas semanas ordenou uma mega operação no Martim Moniz, que resultou na detenção de 1 imigrante ilegal.

Repito: 1 imigrante ilegal.

É neste patamar épico que está a gestão central da polícia. Mobilizar polícias e milhares de euros para deter 1 imigrante ilegal.

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Coisa diferente são os polícias. Polícias remediados e mal pagos, desautorizados e com equipamento miserável, discriminados e colocados no mesmo saco que as maças podres, que, como a fruta com bicho dos bairros sociais, foram, são e serão a minoria.

Ser polícia, cada vez mais, é um corajoso acto de cidadania. Sobretudo nas duas áreas metropolitanas deste país, mas não só. Baixos salários, viaturas degradadas, esquadras decadentes, extremistas de um lado a tentar usá-los como milícias políticas e radicais do outro a tratá-los como párias. Só se lembram deles quando estão aflitos.

Nunca é demais dizê-lo: obrigado, forças de segurança. Digam o que disserem os extremistas e os radicais, a maioria silenciosa está convosco.

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A polarização, bem ilustrada pelo nível de ignorância, crueldade e violência que podemos ler em alguns esgotos a céu aberto do mundo digital, é a ilustração perfeita da decadência e do retrocesso social que ameaça as sociedades democráticas como a nossa. A abordagem é simplista, sem profundidade, e resume tudo à imbecilidade do “bons VS maus”.
Para estas pessoas, as causas reais do problema não têm qualquer interesse.

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Alguns, anarcas do sofá e rufias do café, querem “fazer a folha à bófia”. Que interessa a esses ignorantes que o agente Silva recebe um salário de merda, é destratado e agredido, trabalha numa esquadra a cair de podre e ainda tem que pagar as botas que usa no serviço?
Nada.

Outros, apreciadores do Adolfo alemão, sonham com novos guetos de Varsóvia, desta vez para tudo o que for preto e pobre, português ou não. Que interessa a esses pseudo-arianos, com mais genes árabes e subsaarianos que neurónios, que a Alcinda se levanta às 04h para fazer a limpeza do escritório onde trabalham, o primeiro dos seus 3 empregos, e leva uma vida honesta de trabalho árduo?
Nada.

A narrativa está tomada por duas trincheiras, repletas de massas histéricas e ignorantes.
Uns querem sangue, querem eliminar o outro, querem limitá-lo nos seus direitos.
Outros querem criminosos à solta e polícias acossados, à mercê da propaganda do fascista de Hamelin, que os usa como tropa de choque descartável.
E têm a certeza de tudo, mesmo quando não sabem nada.

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O fenómeno da polarização, porém, não se esgota nas franjas à esquerda e à direita. O contágio é por demais evidente.

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Não é a à toa que muitos dos quadros do Chega vieram do PSD (como o próprio André Ventura) e do CDS. O CDS, aliás, é casa de uma ala ultra-radical, que em pouco ou nada se distingue do Chega. Não será à toa que os liberais saíram em massa para se refugiar na IL.

O próprio PS, partido fundamental na construção da democracia portuguesa, tem em Loures um autarca que defende que famílias inteiras devem ser despejadas das habitações sociais, caso um dos seus elementos cometa crimes que ponham em causa a ordem pública. Ou seja, defende, por exemplo, que os filhos de um criminoso vão viver para debaixo da ponte, caso o pai tenha a triste ideia de incendiar um autocarro. Como se as crianças fossem responsáveis pelos crimes dos pais.

Mas esta não foi sequer a estreia de Ricardo Leão, presidente da CM de Loures, nas lides populistas. Em 2022, durante uma sessão da Assembleia Municipal, Leão defendeu que os alunos cujas famílias tivessem dúvidas ao município deveriam ficar sem almoço na cantina. Palavras para quê? A obscenidade fala por si.

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Como se combate a polarização?
Como lidar com o populismo e a demagogia que lhe dão sustento?
A meu ver, com mais cidadania.
Com maior envolvimento de pessoas como eu e você, caro leitor.
E o que podemos nós fazer?

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Podemos começar por investir mais tempo em informação fidedigna, em informação de qualidade, e no cruzamento de fontes para tirar as dúvidas a limpo.

Podemo-nos envolver mais, pensar mais, questionar mais e debater mais.

Podemos recusar as narrativas do ódio e da divisão e procurar terrenos comuns com aqueles de quem discordamos de forma civilizada.

Porque, caro leitor, as diferenças existem, e ainda bem.

Os únicos regimes em que as diferenças são suprimidas ou silenciadas são as ditaduras.

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Mas existe uma base alargada de valores e princípios que une socialistas, social-democratas, conservadores e liberais. E é esse património comum que urge defender, sob pena de acabarmos mergulhados num regime sombrio, algures entre a oligarquia de Putin e a cleptocracia de Orbán.

Ainda vamos a tempo de despolarizar, pese embora o relógio corra contra a democracia.

Mas só é derrotado quem desiste de lutar.- Leia a notícia em www.onoticiasdatrofa.pt
https://www.onoticiasdatrofa.pt/polarizacao/?utm_source=dlvr.it&utm_medium=wordpress

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